quinta-feira, 14 de março de 2013

Macabro brrrrr

De há pouco tempo para cá começaste a falar da morte. Imagino que venha da escola porque não falamos propriamente da morte em casa. Tenho que averiguar o porquê de falares disso espontaneamente  sem nenhum contexto prévio... sai-te do nada... sai-te do silêncio. 
A morte é sempre um assunto que ninguém gosta. Eu, pessoalmente, recuso-me a falar cada vez que se proporciona uma conversa do género. Fujo, enfio a cabeça na areia como diz a minha mãe! Já vivi algumas mortes neste meu percurso de vida. Todas de familiares velhotes, que de alguma maneira já se esperava, sem nunca se estar preparado, a verdade é essa! Todas excepto uma, uma que caiu que nem uma bomba, de um familiar não de sangue mas sim de coração. O meu mano mais velho, como o chamava. Fomos criados juntos, um andar era o que nos separava fisicamente na nossa infância... os nossos pais eram amissíssimos, continuando a sê-lo até hoje! O P. era filho único... um acidente roubou-lhe a vida no auge dos seus 19 anos. Eu tinha 18 e estava no meu primeiro ano de faculdade... a mesma dele, onde ele me acolheu e protegeu nos primeiros tempos. E ainda hoje dói, dói muito... as saudades são mais que muitas. Mas no meu coração está sempre vivo... não há dia que não me lembre dele, que não fale com ele e sei que é o meu anjinho da guarda... meu e dos meus filhos. Assumo isso, sempre assumi, gosto de assumi-lo. Sei que seria um tio extremoso, orgulhoso dos seus sobrinhos!
Voltando a ti, meu filho, quando falas da morte referes-te sempre aos teus bisavós, meus avós paternos que faleceram precisamente há um ano, com três semaninhas de intervalo um do outro. Nós é raro falarmos deles, não porque tenhamos um problema com isso, não porque não queiramos, simplesmente porque não se proporciona.
Começou por, do nada, estarmos no quadro a fazer desenhos em casa dos vovós e tu ias-me pedindo para desenhar a mamã, o papá, a vovó, o vovô (naturalmente as pessoas com quem mais convives na família) e depois o vovô I. e a vovó C. (lembras-te do nome deles, como se sempre tivessem estado perto de ti). Ficámos incrédulos a olhar uns para os outros. Porque não pediste para desenhar os teus avós paternos com quem estás bem mais vezes ou com os teus outros bisas que estão vivos e com quem convives e conviveste muito mais???? Não, tinham que ser aqueles... aqueles com quem sempre tiveste menos ligação. O meu pai tirou logo fotos aos desenhos que fizemos  todo contente :).
No outro dia, a caminho da casa dos avós, íamos só os dois. Ias entretido a olhar pela janela para o céu, para as nuvens. Interrompes o silêncio "o vovô I. e a vovó C. estão no céu nas nuvens com o gigante"; "ai sim filho, porquê?"; "porque estão morridos e foram para o céu para ao pé do gigante" (que presumo ser o gigante do João Pé de Feijão). Mas como é possível, tinhas dois anos, nunca te contámos que os bisas tinham morrido, não fazia sentido... ainda eras muito bebé! Como é que sabes?? Estranho, estranho, estranho. Ontem na hora de dormir e depois de termos contado a história (ontem foste tu que contaste a história e muito bem diga-se), já na fase de adormecer: "mamã, o vovô é gordo"; "qual vovô filho?" (são os dois, sendo o meu sogro obeso mesmo); "o meu vovô, mamã!"; "oh filho, tu tens dois vovôs, o J. e o Z."; "o vovô J. (o menos gordo lol), poque eu já não tenho o vovô I. que já morreu e foi para o céu!". WTF, mas que obsessão é esta com o vovô I. A sério, isto está-me a deixar meio inquieta. Só me lembro daquele livro que nunca li, mas que sei que existe de um miúdo que sente coisas, que tem poderes extra-sensoriais. E logo eu que não acredito em nada dessas coisas, sou uma céptica de primeira. GOD! E ainda por cima, a morte é realmente um assunto que as crianças a uma determinada altura abordam, mas por volta dos 5 anos, raramente aos 3.
Tenho que falar com a educadora dele sobre isto, talvez haja um contexto escolar que eu não estou a par (dúvido, mas pronto). Mas ela está de férias. Quando voltar tá registado para tema de conversa.
E isto são as histórias que me lembro agora de repente porque há mais.

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